segunda-feira, 16 de agosto de 2010

HIPERTEXTO E A CULTURA LEITORA




Não há como se possa querer que os jovens e crianças de hoje leiam como líamos outrora. O processo de leitura vem mudando, assim como o processo da escrita mudou. Não compreender isso talvez condene muitos a uma segregação na cultura da informação hipertextualizada.

Mesmo não sendo professor de alfabetização, percebo que meus filhos, por exemplo, estão desenvolvendo um hábito de leitura não-linear que eu jamais pensei que se pudessem ter, sendo tão novos. Os CDs com histórias e jogos, são ótimos meios para se comprovar como eles vão experimentando a cultura leitora. Se clicam numa imagem, junto com ela vem o texto, que eles leem e vão logo para outras informações visuais, indo e voltando por hipertextos com uma velocidade e sequência que por vezes me deixa tonto só de acompanhá-los. Esse processo é o que se chama de “leitura icônica”. Nós, os primeiros da geração internet, temos essa capacidade. No entanto, nossas raízes de leitura linear e a cultura de retenção e maturação de informação em ordem gradativa, nos obriga a – quase sempre – voltarmos para os bons e velhos amigos de antigamente: os livros. Ainda temos a necessidade de retermos em nossas mentes, informações que os jovens atuais se contentam em apenas saber onde podem acessá-las (em qual site, arquivo, etc.).

A maior vantagem da leitura icônica é a hipertextualidade enquanto meio de interação e intertextualidade. Não quero analisar os atrativos visuais e gráficos por acreditar que estes perdem sua função quando o leitor do hipertexto encontra na informação, o maior atrativo para a continuação da leitura. Não importa a idade; quando encontramos a informação que queríamos, as imagens e animações gráficas ficam em segundo plano.

A desvantagem que vislumbro neste tipo de cultura leitora é o fato de que pouca importância se dá para as anotações pessoais e reflexões mais pausadas sobre determinados textos. Eu comparo a leitura icônica como um passeio por um parque de diversões, montado em uma motocicleta, a mais de 60 km/h. Você vê tudo o que deseja, mas não tem tempo de desfrutar detalhes e internalizar relevâncias nas informações adquiridas.

Se quiserem compreender o que estou tentando dizer, é só olharem para a forma como muitos estudam os hipertextos nos laboratórios das escolas. Eu, por exemplo, no começo só os lia. Mas minha antiga cultura me obrigou a tomar notas das informações, de modo que eu tenho um caderno cheio de observações e lista de links ou dados extraídos das minhas andanças pelos textos. Será que isso é um vício antigo, ou salutar maneira de internalizar a informação adquirida? Creio que esse aspecto deverá ser motivo de estudos para que o meio acadêmico amadureça o processo de ensino-aprendizagem, mas só depois que esse vislumbre inicial passar.

Por hora, faço par com todos os que enxergam apenas os lados positivos do hipertexto, mas guardo sempre comigo o meu “backup” pessoal, no meu caderninho de notas.

Abraço a todos.

sábado, 14 de agosto de 2010

E lá se foi mais um dia do estudante...


Um colega de longas datas postou recentemente um artigo no portal do Diário. Estimulado por um amigo, fui lá e postei um "pequeno" comentário. Gostei tanto do que escrevi que resolvi trazê-lo para o blog. Aqui está:

Prezado professor:

Apesar de ver as boas intenções no seu discurso, não posso deixar de discordar dele em alguns pontos.

O primeiro deles é sobre a assertiva de que devemos “tomar o mundo feito coca-cola”. A analogia carrega um aspecto negativo que talvez o senhor tenha esquecido: o vício cirrótico do descaso e do relaxamento em nome de uma escola mais livre e simpática. Se o senhor observar os índices das escolas e as práticas que, como o senhor bem colocou, já fazem parte da praxe dominante dos calendários escolares, verá que o prazer dessa “coca-cola” que se busca, só dá gazes e açúcares noscivos às comunidades escolares. Não se vê esse tipo de “refrigerante” nas melhores escolas de Manaus. O Colégio Militar de Manaus, por exemplo, está com um Ideb médio de 6,0 desde que o índice foi criado. O mesmo se pode dizer das escolas da rede estadual que também tiveram bom rendimento. Tenho certeza de que lá, nessas escolas, não se busca florear a vida, mas estudá-la para se aprender novas formas de lidar com os desafios que a modernidade nos impõe. Assim como o dia tem três jornadas de oito horas, a vida tem três momentos distintos: o do descanso, o do trabalho e o do lazer. O desequilíbrio faz nascer as paixões que crescem e viram vícios sociais.

Acredito e concordo com o senhor: Podemos tornar a escola cativante com ações mais pedagógicas e menos demagógicas. Dar esse tipo de festa é a mesma receita que muitos políticos aplicam ao povo. Pão e circo não os deixará ver o grande problema que está por trás das tendas da educação. Se as escolas se tornarem mais informais do que já são, deixarão de ser escolas e passarão à condição de praças e centros de recreação. Enquanto isso, nosso Ideb geral vai sendo motivo de risos...

Os concursos públicos e os melhores empregos cobram conteúdos, professor. As escolas apresentam conhecimento, mas só se sai bem nos exames nacionais aquelas que valorizam a cultura e a disciplina. Enquanto a bola for jogada por esta regra, haverá a necessidade de ensinarmos e avaliarmos nossos alunos por provas escritas desta natureza.

O que me magoa e deprime é saber que, enquanto a sociedade não valorizar o verdadeiro conhecimento, veremos professores perdendo a motivação. Saímos das faculdades motivados, idealizados e idealizadores de uma educação que quebre esse círculo vicioso. Mas somos vencidos pela turma do “deixa disso”, que convive nas escolas promovendo festinhas para que não ocorram aulas normais. O que se ensina nestas festas? A dança do “rebolation”? A ver um filme de violência pela violência? O que aconteceu com os passeios aos museus? O que aconteceu com as visitas aos prédios culturais ou mesmo com a tradicional visita à Coca-cola, para saberem que esse famoso refrigerante surgiu como um remédio para dor de barriga?

A educação está na fase da metástase. Pena que não estejam buscando a cura para os problemas, mas a explicação para os sintomas.

A natureza do estudante é o estudo. E a etimologia de “estudo”, segundo Houaiss, compreende palavras que considero ótimas para terminar esse meu comentário: TRABALHO, CUIDADO, ZELO e VONTADE.

Feliz dia dos estudantes a todos que estudam!

domingo, 8 de agosto de 2010

LIVRO: INSTRUMENTO ATEMPORAL



Acredito que desde a invenção da imprensa, em meados do século XV, o livro passou a ser a expressão máxima do acúmulo e socialização do conhecimento. Muitos, porém, acreditam que a era moderna está trazendo a este símbolo do saber, seus derradeiros dias.

Não há dúvidas de que a novidade dos e-books, blogs, twiters e tantas outros modismos tecnológicos, representa uma ameaça ao livro. Mas eu acredito que este velho amigo ainda viverá muitos anos, pelo simples fato de que ainda não superaram suas principais caracterísitcas: valor intelectual, perenidade e praticidade.
Eu comecei com esses e-books quando comprei meu primeiro MP4. Confesso que a leitura foi, no começo, um vislumbre total. Mas quando, sem querer deletei meu primeiro e-book, comecei a perceber que livros digitais são facilmente descartáveis ou corruptíveis. Não dá para confiar que um vírus não possa bagunçar as informações de um e-book, tampouco afirmar que ele estará seguro por décadas, dentro de um pendrive ou HD. Olhando para as minhas velhas estantes, vejo um livro de psicologia datado de 1971. Mais adiante, na prateleira das gramáticas, vejo o meu primeiro livro de cabeceira: MANUAL PRÁTICO DE REDAÇÃO E GRAMÁTICA, do professor Alpheu Tersáriol, edição de 19?? ... Essas minhas preciosidades perduram até hoje, pelo simples fato de estarem protegidas pelas poeiras e pelo esquecimento de uma necessidade que não se faz constante. Será que um arquivo digital poderia ser assim?
O valor intelectual de um livro também é algo cuja legitimidade é mais difícil de ser questionada. O nome do autor, da editora e de todos os envolvidos no referencial bibliográfico de uma obra impressa, endossam a existência de um livro. Nesta era de informações, muitas bobagens e pseudoinformações são encontradas em links sérios (veja por exemplo a Wikipedia), blogs e tantos outros meios, posto que a filosofia atual é democratizar o conhecimento. Mas, com essa democratização, a quem cabe “o legitimar” esse conhecimento? Aos internautas? Com base em qual registro de propriedade intelectual? Google? Duvido muito que um médico, advogado ou pesquisador renomado usem como base, o conhecimento comumente divulgado em sites sem legitimidade. Isso seria, no mímimo, temerário.
Por último, mas não menos importante, vem a questão da praticidade. Hoje já se pode comprar um tipo de livro eletrônico, para se manusear e ler sentado numa praça, tal e qual faríamos com os livros tradicionais, de papel. Mas esses livros são caros, delicados e muito mais descartáveis que os tradicionais. Dia desses deixei cair uma valiosa gramática numa poça de água, durante uma chuva. Coloquei o livro para secar e estou lendo-o para um trabalho monográfico. Se fosse um livro eletrônico, minha monografia estaria ameaçada pela inutilização de uma das minhas fontes de pesquisa. É simplesmente assustador pensar que uma bateria fraca ou um pouco de água possam danificar uma obra. Livros de papel são bem mais resistentes. Faça um teste: derrame umas gotas de água sobre seu computador ligado. Pensando bem, melhor não fazer isso!!!
A única coisa que eu lamento profundamente, em relação ao livro, é o seu alto custo. Mas se considerarmos a relação custo-benefício, melhor que seja assim. É da natureza humana valorizar o que tem valor comercial.