sábado, 2 de abril de 2011

Quando acabou, o palhaço fui eu.

Sempre que ouvimos o termo “palhaço”, fazemos ligação direta à imagem do sujeito alegre que se sujeita a todo tipo de situação degradante só para arrancar o sorriso de sua plateia. Por vezes o termo apresenta uma extensão de sentido que transforma a pessoa em algo digno de riso burlesco e que não deve ser levado a sério.
Mas, o que acontece quando o palhaço não quer ser visto como palhaço? Aí temos a nossa clássica “piada sem graça”.
Nesta semana eu fui dar minha aula para um sexto ano. Só para situar o leitor amigo, foi o mesmo onde uma aluna foi atacada por borrifadas de urina em pleno horário de aula.
Um meliante, cuja educação foi desconstruída por variáveis que ignoro, chutou a porta da sala de aula no momento em que eu estava trabalhando com meus alunos (nesta turma, muitos são verdadeiramente interessados nos estudos). Ato contínuo, meus alunos gritaram por mim, para que eu interviesse e resolvesse aquele problema. Do lado de fora, o estranho aluno gritou que “esse fresco (eu), não poderia fazer nada com ele porque eu não sou seu professor”.
Fui em direção da porta e o mesmo foi se afastando antes que eu pudesse chegar perto dele. Foi andando com pequenas paradas e viradas para trás. Quando uns alunos do corredor me viram, apontaram para o aluno desbocado para mostrar-me quem dissera as palavras ofensivas. Limitei-me a ralhar com os mais próximos à porta da minha sala de aula e para o desbocado, simplesmente disse que “nada tinha para falar para ele, pois o que tivesse a falar seria para gestora da escola”.
Voltei para a sala e continuei minha aula. Os alunos, normalmente agitados, perceberam que eu estava visivelmente contrariado e até colaboraram para que tivéssemos uma aula tranquila e alegre, em muitos momentos.
Tão logo saí da sala, fui falar com a gestora e citei o fato e o nome do aluno. Este anti-herói já é conhecido de muitos professores, pois faz parte de um grupinho que domina a escola com atos de vandalismo e completo desrespeito aos educadores e alunos que buscam a verdadeira educação. Para resumir, relatei o fato e, diante da passividade da gestora, disse em alto e bom tom: “Gestora, ou ele ou eu!”.
No dia seguinte, logo no primeiro horário, soube por colegas que lá estavam a mãe e o pai do aluno, na sala da diretora. Não esperei ser chamado e abri a porta, pedindo licença e entrando. Citei o fato aos pais e aproveitei para relembrar aos adultos presentes na sala que, no mundo adulto, nossos anos de vida e nossas experiências são joias preciosas que nos dignificam diante dos jovens e permitem a estes que tenham um referencial para o seu futuro. Ao pivô da confusão, disse que um dia ele sofreria algo semelhante e que entenderia a gravidade dos seus atos.
Mas o fato é que nada aconteceu. No dia seguinte o aluno estava pelos corredores da escola como se nada houvesse acontecido. Comentei o fato com o pedagogo e este me confidenciou que dias atrás um meliante fantasiado de aluno ofendeu-o diretamente e com tons de desafio. E o que houve com o aluno? Nada. Sequer uma suspensão.
Como vi que o mesmo aconteceu com o que me atacou, cheguei a duas conclusões cartesianas:
Primeiro. Para a gestora em questão (e para muitos outros), manter seu cargo à custa dos professores é mais sensato do que correr o risco de ter que assinar uma transferência de um aluno-problema. Daí o fato de muitos colegas simplesmente tirarem a camisa da educação e vestirem a da desídia.
Segundo. Estou obrigado a levar o caso aos escalões superiores pelo simples fato de não poder mais contar com ela. Assim, acabamos por perder a credibilidade enquanto educadores e enquanto equipe docente. Quem perde? Os bons alunos.
Minha dedicação enquanto educador e funcionário público foram jogadas à lama, de uma forma que muitos já viveram e sentiram na pele. Posso até estar exagerando, mas não gosto de ver meu trabalho ridicularizado.
A piada foi criada e o palhaço, no final, foi o fresco que vos escreve.

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