terça-feira, 8 de março de 2011

Quando a escola vira refém

Dia desses a minha turma de sexto ano foi atacada por um jovem delinquente que circulava livremente pelos corredores externos da escola. Este jovem, de moral deformada, teve a brilhante ideia de urinar em uma garrafa pet de dois litros e jogar o conteúdo da garrafa contra as vidraças da sala de aula onde eu estava. A urina molhou mesa, caderno e parte do corpo de uma aluna que infelizmente estava sentada próxima à janela. Quando eu toquei no líquido amarelado e cheirei (confesso que não acreditava que fosse urina!), perdi completamente o meu controle! Saí correndo e gritando um repertório de impropérios indignos da minha profissão, pois estava cego de ódio. Queria esganar aquele rapaz. Infelizmente, meu fraco condicionamento físico não me permitiu rodear as grades da escola e alcançar o filho meliante, que ria e sumia pelos portões da quadra da escola.

Não entendo como uma Instituição de Ensino consegue ficar refém de uma pequena parcela da comunidade. O fato é que nossa escola vive refém e pronto! Não consigo pensar em outro termo para definir nossa atual situação. Nossa quadra poliesportiva pertence mais aos desocupados do que aos professores e alunos. Não podemos fazer horas cívicas ou aulas práticas de educação física (ou qualquer outra disciplina), porque simplesmente não estarmos seguros para desenvovermos os trabalhos escolares. Temos seguranças patrimoniais que nada asseguram. Temos câmeras e sensores de perímetro que são sistematicamente atacados pelos vândalos como quem manda a mensagem de que “toda essa parafernália de nada nos valerá”. Marcamos reunião com SEMED, lideranças e representantes das polícias, mas estes últimos simplesmente não aparecem e a reunião se torna inócua.

Estamos sós.

A situação se deteriora a tal velocidade, que os desocupados (adultos, jovens e crianças também!) já jogam pedras para quebrar as vidraças da escola, riscam palavrões numa escola recém restaurada (menos de três meses!) e até furtam nossa parca biblioteca, em pleno turno vespertino (testemunhei o fato, pois estava na biblioteca bem na hora que dois rapazes tentaram entrar pelas janelas da sala. Comuniquei à minha gestora imediatamente!).

Precisamos de ajuda. Mas a famosa deixa para a chegada do super herói, Chapolin Colorado, não faz efeito para o nosso caso. “Quem poderá nos defender?”. Sinceramente, já não sei. Só sei que vi vários colegas simplesmente se isolarem e deixar as coisas acontecerem; já vi colegas tentando fazer algo e terem seus veículos atacados de todas as formas que se possa imaginar; e já vi colegas pedirem licença ou remoção, por não poderem aguentar mais o que se passa por lá.

Li recentemente um relato de um projeto com uma comunidade que mudou a realidade de uma escola gaúcha. Exemplos como esses poderiam ser seguidos. Mas... quem liga, não é mesmo?

Não é de hoje que digo que projetos fazem toda a diferença na vida dos alunos, professores e da escola de um modo geral. Mas eu sou apenas um professor. Para que mudanças ocorram é preciso que a comunidade cobre, gestores articulem, professores renovem compromissos, gerentes setoriais colaborem e, acima de tudo, que TODOS intervenham pelo bem comum.

Essa minha iniciativa de sair correndo foi muito temerária. Diria até que fui um grandissíssimo idiota, pois poderia ter sido morto naquela quadra. E minha morte não traria nada de melhor para a vida dos meus filhos ou para a de meus alunos. No máximo, inaugurariam uma quadra com o meu nome e ponto final. E olha que eu nem gosto de futebol!

Estamos reféns. Por definição, a palavra “refém” denota garantia de que alguma coisa seja feita. É como dizem: melhor alguma coisa do que coisa alguma.

Um comentário:

Professor Queiroz disse...

Qual a escola que queremos? precisamos responder a essa pergunta, para avançarmos nos desafios que realidade estabelece, principalmente nas escolas instaladas em comunidades carentes que vê-la com um "prédio" "estranho" cravado no meio de tantos casebre....